UM CASO DE ROUBO DE IDENTIDADE

O meu trabalho acontece em uma espécie de temperatura de fusão, onde significados se comportam como em estado líquido, amálgamas em constante transformação. A idéia é sempre ajustar, em um único objeto, elementos de diferentes áreas de nossa existência (descascar uma batata e o meu par de tênis preferido, por exemplo) e lidar com os problemas de identidade que surgem desta interação. E, afastando o espectador do conforto do hábito, provocar um estranhamento às atividades e objetos do cotidiano.

Pelos últimos anos, eu tenho costurado pedras, servido de alfaiate para espaços sem corpo, colocado zíper em folhas secas. Também motorizei cordões de pérolas para que funcionassem como uma orquestra. E tenho trabalhado na série O mundo como uma laranja, onde baldes, relógios e xícaras - entre inúmeros objetos - são tratados como frutas ou legumes. Mais recente é a série Os Invisíveis: um grupo de objetos tão comuns e anônimos que se tornam virtualmente invisíveis, são submetidos - com o auxílio de motores - à  performances discretas em intervalos regulares.

Esse processo exige precisão. Cada peça deve consolidar aspectos de áreas desconexas de nossa experiéncia, mantendo-se, no entanto, completamente natural, como se suas novas e improváveis identidades sempre tivessem sido uma possibilidade oculta. Ao deslocarmos elementos de um campo para outro, a intenção seria sugerir uma cadeia de aberta de significados que se reagrupam como pérolas de um colar quebrado, um após o outro mas não necessariamente na mesma ordem.

Eu faço objetos que, sendo improvaveis, criam novas situações para o que é possível.

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